Sinto que estou fora. Que fui encontrada no sítio errado. Que estou a fazer tudo mal e ninguém se apercebe, nem eu. O Mundo está mal, está bem, estou assim assim. Vejo borboletas na praia, da côr da areia, imagino que morrem a voar sobre o mar. Vejo as ondas, leves ondas no mar alto, roendo lentamente o corpo seco pelo sol, vejo peixes e outros seres marinhos correndo à superfície celebrando a Morte num festim culinário inesperado. Vejo, sonho, nem gosto especialmente de borboletas, nem de outros insectos já agora. Vi, juro que vi, acho que vi, um bicho de conta, lentamente, calmamente, passeando pela rua. Pergunto-me como será o meu mundo aos olhos dele. Será que ele vê, será que me viu, será que se lembra. Porquê esta insistência em fazer parte da Memória, em estar na memória dos outros. A busca da eternidade que só dura um momento. O instante de que a nossa imagem é construída na mente de outrém. Será que ele me julgou, o que pensou de mim. Porque passeava ele calmamente se todos corríamos à sua volta. Porquê correr, porquê esta pressa de chegar ao fim?